quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dias prateados



Gotas colam nas calçadas, poças lambem os pés descalços dos transeuntes. O frio gélido deixa a primavera ainda mais densa. O vento sopra meus cabelos,  que atrevido,  passeia entre meus seios e provoca arrepios - acalenta desejos, tantos, que os deixo transbordar num discreto sorriso.

Nas ruas o brilho úmido do asfalto - as mesmas ruas pelas quais nos confessamos um dia. Nelas, quase posso ver você. Sinto sua presença ao meu lado, em cada passo das minhas botas negras que esmagam as poças de chuva. A imagem do seu sorriso ainda me inquieta. Outras vezes é exatamente ela que ilumina meus pensamentos. Eu sei, é estranho.

Ao mesmo tempo percebo que não é mais tão fácil olhar pra você. Olhar nos teus olhos, no fundo dos teus olhos e pousar os meus olhos nos teus. Não é mais tão simples.

Quando neles mergulho, me deixo perder. Tudo some. Foge a frase, perco o ritmo e então sem rumo, sorrio.

Se existe um recurso, uma fuga, um remédio, uma cura...é o sorriso.

Assim, recolho meus pensamentos um a um. E me pergunto em segredo, o quanto você sabe de mim.

Mas retorno para o meu mundo, a rua, o meu caminhar de volta pra casa.

Sinto prata meu coração,

tão gélido como uma lâmina e tão pronto como um vulcão.



Raquel Duarte

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