terça-feira, 9 de março de 2010

Lamento

Eis que agora sou algo que já foi
uma noite, um vento, um lamento
um trago, talvez dois
um olhar, o vento
sentimento pra depois

Eis que sou um conto
um mistério, um ponto
talvez um som

e agora sou quase nada

sou uma oferta
na bandeja
sobre a cama
sobre a mesa
pra quem tiver o dom

Veneno

Te aceitei como alguém que tem sede
e te ofertam vinho
Então me deixei embriagar
sem medo, recusa ou limites
Tomei cada gole
lentamente
Saboreando o líquido ruge
que tingia os lábios
e adormecia a língua
Enchi a taça de novo
E bebi ainda mais rápido
deixando cair gotas
que escorreram pelas sardas do meu colo
percorreram entre meus seios
penetraram a pele
rasgaram meu peito
e habitaram em mim
desde então
herdei esta sede
que não se finda
só multiplica
de querer você

Entrega

Sou assim mesmo,
Deito sobre cacos de vidro
para me entregar ao sonho

Por mais que me amarre
gosto de seguir em frente
sem temer qualquer abismo

Mesmo que me cale
Meu coração faz tremer a terra
denunciando oque sinto

Ainda que não te olhe
todos os dias
Deixo-me cegar com sua sombra

Embora eu entenda o mundo
Pouco sei dos destinos
e nada sei das liberdades

E mesmo assim
Sem nada perder ou ganhar
Debruço-me na janela
embriagada de te esperar