segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O raro prazer do ócio

Sábado.


Desta vez levantei em capítulos. Abri lentamente os olhos, ora um, ora outro, deixando a claridade penetrar aos poucos. Me virei de um lado, espreguicei, virei do outro lado. E pronto, foi só. Num ritmo desenfreado, acordei, tomei banho e escovei os dentes, me troquei enquanto passava o café na cafeteira, cuidei da casa enquanto checava meus e-mails, conversei pelo msn enquanto pesquisava para uma nova matéria, na pesquisa abri várias páginas ao mesmo tempo, liguei no jornal enquanto lia um livro, organizei minhas roupas enquanto assistia à um filme.

De repente me dei conta que não consigo mais fazer apenas uma coisa. Quero fazer tudo, quero fazer mais e em cada vez menos tempo. Esta é a síndrome do profissional moderno, e o pior, além do stress conseqüente, não há o mergulho. Vivemos na superficialidade das coisas imediatas. Da página virada que se torna ultrapassada antes mesmo de completar o percurso. Mesmo com as novas leituras da vida. Com a necessidade da urgência, já não há possibilidade para o ócio. E para "ganhar mais tempo" matamos assim metade da nossa existência.

Raquel Duarte