terça-feira, 9 de março de 2010

Lamento

Eis que agora sou algo que já foi
uma noite, um vento, um lamento
um trago, talvez dois
um olhar, o vento
sentimento pra depois

Eis que sou um conto
um mistério, um ponto
talvez um som

e agora sou quase nada

sou uma oferta
na bandeja
sobre a cama
sobre a mesa
pra quem tiver o dom

Veneno

Te aceitei como alguém que tem sede
e te ofertam vinho
Então me deixei embriagar
sem medo, recusa ou limites
Tomei cada gole
lentamente
Saboreando o líquido ruge
que tingia os lábios
e adormecia a língua
Enchi a taça de novo
E bebi ainda mais rápido
deixando cair gotas
que escorreram pelas sardas do meu colo
percorreram entre meus seios
penetraram a pele
rasgaram meu peito
e habitaram em mim
desde então
herdei esta sede
que não se finda
só multiplica
de querer você

Entrega

Sou assim mesmo,
Deito sobre cacos de vidro
para me entregar ao sonho

Por mais que me amarre
gosto de seguir em frente
sem temer qualquer abismo

Mesmo que me cale
Meu coração faz tremer a terra
denunciando oque sinto

Ainda que não te olhe
todos os dias
Deixo-me cegar com sua sombra

Embora eu entenda o mundo
Pouco sei dos destinos
e nada sei das liberdades

E mesmo assim
Sem nada perder ou ganhar
Debruço-me na janela
embriagada de te esperar

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Das expectativas

Assim, como um lamento
carrego comigo o tempo
que amarra o espírito
faminto de algo que não vejo.


Assim, como lâmina
cujo corte é preciso
pergunto-me quanto me resta
enquanto em desatino,
espero.


Desta forma e não de outra
tenho sobre os ombros
a intranquila espera
desta sombra ou luz
que me atingem em cheio
quando me vejo em teus olhos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Desculpa




Destas convulsões registro o pensamento constante da cura, ainda que o método obsoleto seja o disfarce,  vez ou outra vomito todos os pensamentos, assim ejaculam-se as frases imperfeitas e soluções malditas para algo que chamo carinhosamente de humor, fingindo que não são verdades místicas deste sentimento que me rasga inteira, ainda que eu implore absolvição.

Rastejantes frases. Gosmentas, repletas dos nódulos esverdeados do abandono .Carregam em si, pensamentos inoportunos e despidos de decência  embriagados desta ânsia louca, de querer mais, invadir e sequestrar esta  alma em desvantagem virginal.

Desta  paixão, recolho minha vergonha, que embora enrustida em tantos risos soltos, me queixa de tanta aniquilação.  Ouço-a, mas perco-a quando então meus olhos se veem nos seus. E  quando, quase sem perceber, pousam em sua boca , registrando o formato, a cor e o movimento dos seus lábios ao libertar as palavras ao vento que enfim, são ofertadas à mim.

Cada vez mais rara é tua presença e tornando assim mais valioso seu espírito, que agora migra longe, entre o trabalho e a rotina incessante, danificando o contato com as verdades simples, calejando meus sonhos e fantasias destemidas de tantos nãos,

(Respiro) Seria sensato ir embora. “Toma esse sentimento que devora em mim as vísceras da sensatez cotidiana, me declaro livre .”
 Mas não sou covarde, mesmo com este acúmulo de esperas e medos e até de suspeitas em que nosso reencontro eu  transgrida, urre ou simplesmente me deixe seduzir pelo feitiço de ter seus lábios nos meus...incessantemente, não quero ir.

Não estou pronta para partir, embora algo que mais anseie seja a liberdade de ficar só, ainda não consigo. Preciso saber que você existe no meu mundo, mesmo que não para mim, ou para ninguém, mas que coexiste desta forma que tu és, com todos seus desígnios, crenças e temores. Assim...

Assim mesmo. Fica em mim e deita no meu peito só desta vez. Poderá então fincar suas raízes lá dentro, circulando todos órgãos e enfim compreendendo que falo de algo muito além do sexo. Inexplicavelmente mais sedutor. Mais puro e mais instigante que isso,

Deite aqui então e me diz porque estamos aqui.
Porque já não tenho mais respostas.



Raquel Duarte



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Da ridicularidade

Diante de ser ridícula
rio de mim mesma
quando desprezo máscaras de cera

rio dessa insegurança boba
que chegam com as verdades
rio do jeito "sem jeito" e do olhar inocente
e gargalho dos medos inconstantes

tento não ver apenas o que "gostaria de ver"
mas quando percebo,
já estou em você de novo.

e mesmo que não saiba, permaneço.

Sou este riso que rasga teu rosto vez ou outra.
Sou o teu desejo de ser livre
e esta ânsia por descobertas
que simultanêamente nos suga

e ainda sou a tristeza latente
na ausência das palavras
enquanto te grito meu mundo.

Não se cale.