domingo, 6 de julho de 2008

Quase estar


Minha mente ferve. Cai a noite e borbulham pensamentos intranqüilos. Assim, deixo os suores noturnos molharem o corpo, trêmulo, estranhamente gélido. Todos os sons parecem gritar a noite. Ouço de perto os pássaros, os passos humanos, os pneus dos carros sob as poças da chuva. Sinto o som das folhas que caem das árvores. E a textura insólida dos pensamentos. A paz é um disfarce da tortura noturna, deste silêncio que massacra as mentes incertas.

Certa vez, passei por caminhos sombrios, não entrei, mas fiquei tempo bastante para sentir as sensações de perigo, a adrenalina acalorando o corpo, a vontade de ir em frente. Senti uma certa liberdade, o soprar do vento entre os cabelos, um arrepio insano percorrer alma. E estava apenas no ínicio, sem a intenção real de entrar, mas com aquela curiosidade insana de ir em frente. Por alguns minutos, talvez segundos, talvez até imensuráveis instantes, me permiti entrar um pouco, ir um pouco além. Queria entender os limites da alma e as verdades humanas.

Não segui nesta direção porque despertei, como num transe. Acordei num susto, senti alívio, pois os caminhos sangrentos não existiam mais. No entanto, não houve testemunha, a não ser minha razão e verdade. Sobrou minha solidão inquieta, que agora me retorce o espírito, vez ou outra, quando me perco em pensamentos noturnos.

Sou tão impaciente e cruel comigo mesma, o pior dos juízes. Tenho um carrasco dentro de mim, que me esgota, me suga, me lambe longamente os desejos secretos. Sem piedade ou remorço ele me devora, lentamente, feito verme. Mas resisto bravamente, rumo a uma nova descoberta.

Um comentário:

FALANDO COM A PAREDE disse...

Senti o cheiro do chão molhado. Mas o chão de pedra de São Paulo. Aquela noite com garoa. Madrugada. sozinho na janela. Fumando um cigarro e pensando na vida. Mas pensar pra que? Para quem? Em que? Não sei... mas aquele gostinho não sai da minha boca, mente e do meu corpo... coisa de doido né ?